Porta guardanapos ou o design do prosaico
Ethel Leon
Dois projetos de um objeto prosaico, tão prosaico que se torna quase invisível, mostram como o design é uma atividade que faz verdadeira inquisição aos objetos. Falo aqui de dois porta-guardanapos ambos redesenhados por Joaquim Redig.
Nada do que existe num objeto, aos olhos de um designer, é ingênuo, natural, dado ou eterno. Tudo, do ponto de vista de um designer, pode ser mudado para melhor… sempre. E basta pensarmos nos balcões de padaria e lanchonetes para lembrarmos de experiências desastrosas com os porta-guardanapos do salgadinho nosso de todo dia.
A maioria deles não dispensa o uso das duas mãos, uma para segurar o objeto, outra para puxar o papel. Muito cheios, às vezes fazem que se rasgue o papel ou que se puxe montes de guardanapos que vão para o lixo, pois só precisamos de um.
Produto/serviço por excelência, escondido no uso diário, chamativo nos modelos domésticos os mais variados e fantasiosos, o porta-guardanapos de uso público é o objeto que não ganha capa de revista, não se apresenta edulcorado ou infantilizado, como tantas peças das lojas de design.
No caso do porta-guardanapos da Melhoramentos, a empresa pediu a Redig apenas uma renovação visual do produto, que se destina a servir guardanapos de papel dobrado em mesas e balcões de bares e restaurantes (podendo ser usado também em âmbito doméstico).
O redesenho visual foi feito, mas Redig lascou de quebra dois aperfeiçoamentos. Ele conta: “O primeiro foi ajudar a retirada do papel, fazendo a face inferior da janela ligeiramente côncava para pressionar a pilha de papel para baixo, e a face superior ao contrário, convexa, para liberar a aba da folha de cima, melhorando a pega. O segundo foi reduzir um pouco o volume total da peça (sua altura – sem reduzir a carga), para liberar espaço nas mesas. A face posterior plana atende à possibilidade de se criar uma versão do produto para uso na posição vertical.”
No caso do porta-guardanapos da Plajet Santher, o projeto foi realizado para a indústria que injeta os dispensers em plástico, a tradicional Plajet.
Novamente é Redig quem explica: “O sistema de empilhamento do papel interfolhado e o dimensionamento restrito da boca do dispenser (um pouco mais estreita do que a largura da carga), mantém o papel armado, facilitando muito a pega, em relação aos sistemas existentes no mercado, nos quais o guardanapo descansa sobre a pilha.
A simetria espelhada do design denota o uso duplaface do objeto, ou seja, seu acesso simultâneo por lados opostos, configuração própria das mesas de refeição. Outra inovação importante deste design em relação aos concorrentes foi fazer o dispenser resistir à queda ao chão sem abrir, e portanto sem perder a carga. Para isso, desenhei um sistema de fechamento sólido, aproveitando o visor de controle do reabastecimento do papel como botão para fazer o “clique” de fechamento/abertura da caixa plástica, a partir da flexibilidade do material empregado (polipropileno, nesta base, e poliestireno, na tampa).
A base é única para tampas diferentes, permitindo, com isso, economizar na produção de modelos variados do dispenser para diferentes marcas de papel interfolhado (Santher e Joffel, clientes da Plajet). Observa-se que, no caso da Joffel, a forma da janela (parte alterável por meio de inserto no molde) é uma alusão à sua marca (ondas paralelas na vertical).