Nascimento: 19/5/1946, Rio de Janeiro
Profissão: Designer
IDENTIFICAÇÃO
Joaquim de Salles Redig de Campos, nascido no Rio de Janeiro em 19 de maio de 1946.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Minha formação foi na ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial, aqui do Rio. Na época era a única escola de Design do Brasil. A segunda formação foi com o próprio Aloisio Magalhães, que fez o projeto BR para a Petrobras. Foi uma formação porque ele era uma pessoa muito didática. A minha experiência profissional foi com ele, desde o início. Comecei a trabalhar com ele no segundo ano da faculdade e fiquei até os 36 anos de idade.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Depois que saí do escritório do Aloisio, comecei com o meu escritório particular, praticamente individualmente. Já tive algumas sociedades com alguns designers ao longo do tempo, um em cada época, mas é um escritório pequeno. Eu faço projetos de produtos e ainda de marcas e de sinalização. Mais ou menos as mesmas coisas que eu fazia no escritório do Aloisio, só que acrescentando o design de produto, design de equipamentos, que, aliás, também fizemos na época em que desenhamos as bombas de gasolina na Petrobras.
VIDA ACADÊMICA
Além disso, eu dou aula, escrevo e estou muito envolvido com a questão conceitual, e, aliás, o Aloisio também estava. Foi uma herança dele e da Escola (ESDI) que também sempre nos faz refletir sobre o que se está projetando e projetar a partir da necessidade da sociedade. Então, tudo isso me leva a escrever, a me envolver com ensino.
Estou fazendo o mestrado agora. Foi uma maneira que eu encontrei de canalizar justamente esse lado mais conceitual de escrever e de refletir. Tem vários assuntos sobre os quais eu reflito e quero escrever; um dos mais importantes é o Aloisio Magalhães. Há vários assuntos dentro do tema Aloisio Magalhães, que eu gostaria de estudar melhor, ir mais a fundo em fatos que acompanhei, como o projeto da BR, que foi o trabalho do Aloisio mais significativo, mais amplo. Ao mesmo tempo iniciou e finalizou uma etapa da carreira e do escritório dele.
Eu comecei o mestrado em Design, na própria Escola, que acabou de criar o curso. A ESDI foi a primeira graduação de design, mas demorou muito tempo para fazer a pós-graduação. Quando fez, vi que realmente era o lugar certo para eu fazer os trabalhos que queria sobre o Aloisio e sobre a gênese do Design no Brasil. A ESDI foi o lugar onde isso aconteceu e o Aloisio foi um dos fundadores da própria Escola, então eu achei que era o lugar certo e na hora que abriu o curso de mestrado, eu entrei na primeira turma. Conversa vai, conversa vem com os professores, eu acabei me concentrando mais no trabalho da Petrobras. Primeiro eu estava estudando o Aloisio como um todo, ainda estou estudando porque sempre gosto, mas me concentrei no trabalho da Petrobras principalmente por orientação do coordenador do curso, o professor Guilherme Cunha Lima, que me sugeriu: “Vai nesse caminho que é um caminho frutífero.” É mesmo um projeto fantástico, muito amplo, e que eu tenho muitas razões para fazer, pois inclusive participei muito intensamente do processo todo. São coisas que eu conheço porque vivi e estou escrevendo, documentando e analisando a história da comunicação visual da Petrobras, a partir do projeto do Aloisio. Estou também analisando os antecedentes e os desdobramentos desse momento.
ALOISIO MAGALHÃES
Aloisio Magalhães foi uma pessoa muito importante na história do design no Brasil. Uma pessoa que decidiu ser designer num país em que não existia essa profissão. Ele, junto com algumas poucas pessoas de sua geração, de São Paulo e de outros lugares também, tomou essa decisão. Ele era artista plástico. Ao longo de um processo de experimentação com gráfica – porque ele trabalhou com tipografia, com processo gráfico, desenhou livros ilustrados –, ele resolveu, além de trabalhar com artes plásticas, ir para o design como uma maneira de – segundo ele mesmo – dar um sentido mais amplo, mais social e mais contemporâneo à atividade visual que ele já fazia. Ele foi o inaugurador do design. Ele também era – como eu falei – um pensador, uma pessoa que estava sempre refletindo, muito culta, então ele trazia o design não só como uma profissão, mas também como uma ciência ou, pelo menos, como uma disciplina, como uma atividade intelectual, de sentido social. E, dentro dessa linha, ele foi um dos fundadores da ESDI junto com outros professores, outras pessoas da geração dele que pensavam parecido, algumas que vieram de fora, especificamente do exterior para fazer a Escola, porque a ESDI foi baseada na estrutura da Escola de Ulm da Alemanha.
Ele morreu em 1982. Ele nem chegou a participar da reformulação da marca BR, justamente neste ano. Ele chegou a ver alguma coisa sim, mas não participou exatamente porque nesse momento, ele teve esse processo, que eu estava dizendo, de formação do design no Brasil e de instituir a profissão.
O trabalho da Petrobras foi interessante porque ao mesmo tempo foi um fim e um começo, como eu falei. Foi um começo por causa do escritório, da atividade dele como designer, desse processo que eu estava falando antes, da participação dele na implantação do design no Brasil como uma atividade nova e uma ciência também. Ele se dedicou totalmente a essa atividade durante os anos 60. Fundou o escritório, montou uma estrutura de trabalho em 1962 e foi até 1970, exclusivamente, fazendo isso, exatamente quando fez o trabalho da Petrobras.
Antes disso, ele havia redesenhado o dinheiro brasileiro, um trabalho que deu uma dimensão e uma projeção a ele, e uma dimensão do Brasil, porque envolvia todo o país. Então, quando chegou esse momento da Petrobras, ele já estava com uma grande experiência e com grande nome no mercado.
ALOISIO MAGALHÃES / HOMEM PÚBLICO
De certa maneira, aí ele começou a se afastar um pouco da prática profissional diária, que ele teve durante dez anos, nos anos 60. Começou a voltar um pouco às artes plásticas, a fazer umas experiências gráficas e começou também a se dedicar à pesquisa, que ele sempre se interessou. Ele fundou o centro de pesquisas chamado Centro Nacional de Referência Cultural em Brasília, em 1975. A partir daí, ele foi deixando aos poucos a prática do design, mas não deixou de se envolver no problema do design, e passou para o Sphan, na época era a Secretaria do Patrimônio Histórico. Depois, ele criou a Fundação Pró-Memória – eu não sei se acabou ou não na época do Collor – que era um braço mais ágil do Iphan, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que ele dirigiu também. Nesse momento, em 1982, ele já era praticamente Ministro da Cultura, ele era Secretário de Cultura, no Ministério da Educação e Cultura. Ele tratava dessa metade do Ministério, na época do Governo Figueiredo – o último Ministério da Educação e Cultura. Depois, no Governo seguinte, o Sarney criou o Ministério da Cultura.
Então foi praticamente na ocasião desse trabalho no MEC, em que ele não exercia mais o design, que o segundo trabalho da Petrobras foi feito. Ele foi chamado pela Petrobras, mas foi a sua equipe que realizou, porque ele não estava mais na prática diária. Era o dono do escritório e participava de alguma maneira das decisões e dos projetos, na medida em que ele podia freqüentar. A freqüência dele ao escritório foi diminuindo cada vez mais. Entre os anos 1960 até 1975, a freqüência era diária. De 1975 em diante, ele ia menos, porque cada vez mais a responsabilidade política dele aumentava.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu comecei a trabalhar no escritório de Aloisio em 1966. Participei do primeiro projeto da marca BR. Mas, por essas coisas do destino, eu fui fazer um trabalho para o Aloisio em Londres, para a Organização Internacional do Café. Era um trabalho super importante e interessante e me deu a oportunidade de viajar e trabalhar em outro país. Era para fazer a marca da Organização do Café, uma organização internacional, muito ligada ao Brasil, um importante país produtor. Eu estava em Londres quando chegou o pedido da Petrobras. Eu passei alguns meses trabalhando lá, porque o trabalho era grande e fiquei, de certa forma, frustrado: “Poxa, agora que eu estou aqui, fazendo esse trabalho também super legal e interessante, chegou esse pedido da Petrobras”, que era um trabalho irresistível. Acho que hoje ainda é para um designer, porque oferece milhões de possibilidades de projeto e de criação.
O Aloisio viajava muito, porque nessa época, ele estava desenhando também o dinheiro, finalizando os trabalhos do Projeto Cruzeiro. Então ele estava sempre em Londres, onde foram feitas as chapas de impressão. Ele ia lá para acompanhar a produção do desenho dele na Thomas de la Rue, a empresa internacional que fazia dinheiro na época. Hoje se faz na Casa da Moeda, bastante pela interferência do Aloisio. Então, ele estava sempre lá e nós dialogávamos muito sobre o trabalho da Petrobras. Eu cheguei até a fazer uns rabiscos, na medida em que o tempo permitia, tentando colaborar de longe. O projeto foi feito dentro da concepção dele.
IMPLANTAÇÃO DA MARCA BR
Assim que eu cheguei [de Londres], logo depois que o projeto foi finalizado, o Aloisio me pediu para fazer a coordenação da implantação do trabalho. Era um contrato de dois anos para implantar a marca. Tinha que visitar os postos, fotografar, desenhar especificamente alguns postos que iam servir como modelo para toda a rede, enfim um trabalho extenso e minucioso. Eu comecei esse trabalho e pensava, de certa maneira: “Agora para fazer esse trabalho, eu estou numa ótima posição porque, por um lado, posso falar totalmente do projeto já que não sou autor, não participei da concepção, das formas, das cores, do BR, mas conheço tudo porque participei durante dois anos.” Visitei não sei quantos postos da Petrobras no Brasil inteiro, viajando com o pessoal da Petrobras, com Fernando Perissé, que era mais do que um contato com o escritório, era quase um designer também, porque ele participava dos problemas que tínhamos para fazer os projetos dos letreiros e dos postos que era o problema principal.
Fernando Perissé era o contato da Petrobras com o escritório do Aloisio e foi uma pessoal fundamental para o projeto andar e ser realizado, vencendo as dificuldades técnicas que tínhamos de fabricar letreiros, de produzir as três cores – verde amarelo e azul – que a Petrobras já tinha e continuou a ter, só que eram cores novas, novas tonalidades, novas áreas também, os letreiros tinham muito mais áreas de cor do que antes. Enfim, tinha uma série de aspectos técnicos para ser vencidos e o Fernando Perissé – como cliente, no caso o representante da Petrobras, e como nosso interlocutor – sabia muito bem fazer esse jogo entre o que a Petrobras precisava, o que os fornecedores podiam fabricar e o que o designer recomendava – o que era recomendável do ponto de vista do designer. Ele compreendia bem o projeto e era também um parceiro nesse sentido.
Eu trabalhei intensamente durante dois anos. Eu coordenei todo o contrato do Aloisio: estava sempre envolvido com todos os problemas das embalagens, com o design das bombas. Fui visitar as três fábricas de bombas que na época eram fornecedoras da Petrobras; falava com os engenheiros das bombas, enfim, ia para todo lugar que tinha alguma coisa a ver com o projeto.
PROJETO LUBRAX
Nós fizemos um projeto de embalagem que depois não foi usado exatamente, mas foi reinterpretado na hora de ser produzido no projeto do Lubrax. Tive contato também com o Décio Pignatari, o autor do projeto dessa nomenclatura. Era um projeto amplo.
O Projeto Lubrax das embalagens foi depois desse período, começou exatamente no final, em 1972. Foi um dos últimos projetos que foram feitos, o das embalagens. O Décio Pignatari foi chamado pelo Aloisio Magalhães. Ele é um escritor, um poeta, um intelectual. Ele fez alguns projetos com o Aloisio de nomes de marca de produto. Ele também trabalhava com publicidade – ou trabalha ainda, não sei – e é uma pessoa muito perspicaz, do ponto de vista da linguagem e com toda a experiência, o conhecimento e talento. O Aloisio o chamava sempre para fazer projetos de nome e o chamou no caso da Petrobras. Ele criou uma linha de nomes, sendo Lubrax um dos nomes pensados, que acabou sendo adotado para o óleo lubrificante, mas na verdade era um sistema de nomes bem amplo, muito interessante, todos baseados no BR. Quando o Décio foi chamado, o Projeto BR já estava definido e aprovado, em 1972.
VISÃO E CONTEXTO DA MARCA BR
A visão a longo prazo da marca era total para o futuro e para o passado também. Essa era a dimensão que o Aloisio dava às coisas, de inserir o trabalho no seu contexto. É aquela história que eu falei da dimensão social do nosso trabalho. Inserir o trabalho na sociedade e ver o que ele representa, qual é a história dele. Então, todo o trabalho foi feito a partir da história da Petrobras, do que é a Petrobras como empresa, como instituição e até como uma parte da cultura brasileira, da história política, econômica e geral do Brasil.
Foi uma visão muito importante para o trabalho, feito com a intenção de mostrar e de enfatizar os valores que criaram a Petrobras e que a mantiveram até hoje, porque são os mesmos, com as transformações da época e tudo. Tinha essa dimensão para trás e também a dimensão para frente, porque a Petrobras tinha que concorrer no mercado, um problema basicamente comercial.
A Petrobras [Distribuidora] chamou o Aloisio porque decidiu competir com a Shell, com a Esso, com a Texaco, com a Atlantic, com as grandes empresas que muito antes dela já estavam no Brasil. A Petrobras começou mais ou menos nos anos 60 com os postos de gasolina, mas essas empresas estão no Brasil desde os anos 1930 – algumas mais, outras menos – já estão no mercado brasileiro há muito tempo. São empresas tradicionais, muito conhecidas aqui. A Petrobras tinha que entrar nesse mercado, não só de grandes empresas multinacionais, mas também de empresas que já estavam muito estabelecidas e conhecidas no Brasil. A marca da Esso faz parte até da musica popular brasileira: tem uma música do Caetano que fala do “oval da Esso”, algo que faz parte da nossa cultura. Então, a Petrobras entrou para concorrer. E o que ela tinha que ter para concorrer? Ela tinha que ter elementos de comunicação fortes.
ESTUDOS PARA A MARCA BR
Petrobras é uma palavra de nove letras. Shell são cinco letras, Esso são quatro. A Texaco e a Atlantic são palavras mais compridas, mas a Texaco tem uma estrela que é uma forma universal. A Esso tem o famoso oval, a Shell tem a famosa concha. Todas as empresas com os seus símbolos e o que tinha a Petrobras? Ela tinha um losango, que era igual a não sei quantos. Fizemos um levantamento na lista telefônica e tinha centenas ou dezenas de losangos: Good Year, Gillette, empresas que não tinham nada a ver com o losango da bandeira brasileira, como o losango da Petrobras a que, teoricamente, estaria vinculado. Então, viu-se que o losango não representava exatamente o Brasil, embora fosse um elemento da bandeira porque era uma forma universal demais e que as cores estavam lá muito mirradas, muito frágeis. A grande cor era o amarelo, porque o losango era amarelo e o resto eram frisos: um friso verde em volta e a letra azul, que também era um friso. Era tudo frágil, tudo fino, transparente, tudo sem contraste.
O que se fez foi valorizar isso tudo, dar peso às cores. Escolheu-se um novo verde, um novo azul e um novo amarelo, todos ocupando largas áreas, nada de frisos, de coisas pequenas. O BR vem como uma síntese de uma palavra de nove letras, mais sintética do que as palavras Esso, Shell, Texaco, todas elas, dando à Petrobras os instrumentos para poder competir com muito mais potência e, consequentemente, ganhar o mercado, como ela efetivamente ganhou. Com todas as idas e vindas, tudo o que o escritório do Aloisio propôs foi usado e serviu para o que a Petrobras queria e precisava. Por essa e por outras razões, a Petrobras conseguiu crescer e competir realmente à altura, no mesmo nível dessas outras empresas.
REDESENHO DA MARCA BR
Do redesenho eu não participei. Quer dizer, quase participei. Havia uma sociedade com o Aloisio, eu e o Rafael Rodrigues, que ficou com o escritório, o PVDI. Eu sai do escritório, o Aloisio morreu e o Rafael ficou com o PVDI. Na época em que eu estava saindo, o Aloísio já não estava participando das coisas como antes, até tivemos algumas conversas sobre o projeto, mas nem eu nem o Aloisio participamos diretamente. Foi um projeto já numa segunda etapa do escritório, que começou nessa época e veio até hoje, uma nova sociedade, com outras pessoas, com a Nair, que já trabalhava conosco e depois com outras pessoas. Foi uma nova etapa desse grupo; enfim, não participei. O Aloisio já estava na Cultura, chegamos a conversar sobre o projeto, mas participar não. Eu já não estava mais lá e o Aloisio estava com os compromissos de Secretário da Cultura e já não fazia mais projeto. De alguma maneira, ele estava envolvido com a conversa e com os problemas, mas não exatamente com o projeto. Eu só dei algumas opiniões.
UM DESIGN INOVADOR
Tem várias histórias dentro dessa história. Eu procuro no meu trabalho contar todas elas, mas eu não vou contar todas aqui. Tem a história principal, que eu estava contando. O projeto que o Aloisio fez em 1970 foi como se decantasse o material e tirasse dele o que realmente valia e jogasse fora o resto. Como se estivesse garimpando ouro, sobe o ouro e o que sobra vai para baixo. O que o Aloisio fez foi decantar e acentuar os valores. Foi algo fundamental e num momento em que, embora essas concorrentes fossem grandes empresas e super-bem montadas há muitas décadas, o design era uma atividade ainda muito precária. Os postos de gasolina não eram lugares bem desenhados. Eram serviços que funcionavam, mas as condições de design, de habitabilidade, de conforto, de limpeza não eram boas. O design mudou muito isso internacionalmente. Tiveram grandes designers que trabalharam para as empresas de petróleo, como o Raymond Loewy, um dos maiores designers conhecidos, que redesenhou a marca da Shell e desenhou a Esso – que depois virou Exxon com xis. Enfim, é um campo em que o design tem contribuído bastante em vários momentos da história.
O escritório do Aloisio, embora estivesse concorrendo com essas empresas todas bem montadas, chegou antes ou chegou ao mesmo tempo, porque ele era uma pessoa antenada. Ele estava fazendo um design inovador aqui ao mesmo tempo em que estava sendo feito em outros lugares do mundo. As multinacionais só colocam as coisas no Brasil depois que estão resolvidas em casa. Então, enquanto a Petrobras estava resolvendo o seu problema, a Shell ou a Esso estavam resolvendo os seus problemas lá. Na verdade, a Petrobras chegou antes aqui, porque estando aqui, ela fez e implantou, ao mesmo tempo, que talvez estivesse sendo feito fora do Brasil. A Petrobras teve esse passo de desenhar e redesenhar os postos, de modernizar e dar um caráter mais agradável. Todas as filosofias que o design procura seguir dentro da concepção de um projeto foram trazidas pela Petrobras. O Raymond Loewy, por exemplo, redesenhou a marca da Shell em 1971, um ano depois que o Aloisio fez o trabalho da BR. Ele estava fazendo isso na mesma época, só que um ano depois. Um ano depois na Europa, significa não sei quantos anos antes no Brasil. Então, o Aloisio e a Petrobras tiveram a precedência de estabelecer essa linguagem nova nesse momento, antecipou uma ação do mercado, estava na liderança do mercado. Isso foi a história principal.
UNIDADES DE SERVIÇO
Depois tiveram várias micro histórias. Tem a histórias das bombas de gasolina, não só das bombas, mas de toda a unidade de serviço e é basicamente o que se tem hoje. A idéia da Petrobras foi fazer uma Unidade de Serviço, onde se tem a bomba, os armários do lado, as coberturas que também fizeram parte do projeto do Aloísio, mas acho que não foram implantadas. Na época, a concepção era essa. Antes do escritório do Aloisio, as bombas eram peças isoladas. Depois passaram a ser um sistema modulado, de armário, ilha, era uma coisa toda modulada, como é hoje, o mesmo conceito, só que hoje é outra escala, outra dimensão e até outra cor, mas é o mesmo conceito daquele momento.
HISTÓRIA DA MARCA / DESCONTINUIDADES
Teve a história das embalagens, como eu contei, e teve a história da marca da Petrobras que é interessante. Um dos pontos que estou analisando na minha tese de mestrado é a linha evolutiva da marca da Petrobras e também uma da Shell. Gostaria de fazer de outras também, mas fiz a da Shell porque tenho bastante documentação e é um exemplo de continuidade. A marca da Shell sempre foi uma concha, claro! Só que essa concha teve vários desenhos ao longo do tempo. Todos os desenhos sempre foram feitos no sentido de aprimoramento, de melhorar a legibilidade, para poder ser impressa, reproduzida, porque afinal não é uma concha marinha, é uma marca, então tem que ser reproduzida, impressa, pintada nos letreiros, etc. Há uma linha de continuidade. A linha da Petrobras é cheia de degraus e buracos, começa com o losango, vira o BR, depois do BR vem o losango de novo, mas, na verdade, é um hexágono com o losango dentro, a terceira marca da Petrobras que foi usada durante 20 anos. Teve o novo losango, depois teve o novo BR, quando entrou o branco e saiu o azul. Não tinha branco antes, passou a ser verde, amarelo e branco. Ainda o BR, mas com uma diferença significativa porque cor é um elemento importantíssimo na identificação de qualquer coisa, de qualquer país, de qualquer empresa. Teve a entrada do prateado, que foi uma grande modificação no aspecto dos postos.
Os postos até então eram verdes, amarelos e brancos nesse segundo momento, depois veio o projeto do novo mobiliário – que não foi mais do PVDI, do escritório do Rafael – e passou a ser prateado, uma cor nova na identidade visual da empresa, outro elemento de interferência que entra nessa linha. Então, tem o episódio da Petrobrax, que chega a ser engraçado, que é completamente fora desse caminho, a não ser pelas cores verde, amarelo e azul. Aliás, recupera um azul que tinha sido retirado na etapa anterior, volta o azul que, de certa forma, é uma referência de continuidade, mas já com outro elemento que é a chama. A chama não fazia parte dessa história, mas é um símbolo de energia também usado por outras empresas, como a CEG, por exemplo, a Companhia de Gás do Rio. É um símbolo mais ou menos universal de energia, mas é um signo que não tem nada a ver com a história da imagem da Petrobras. Então, a linha de continuidade da Petrobras é muito ziguezagueante. É descontínua.
UMA QUESTÃO DE IMAGEM
Essa descontinuidade talvez revele uma dificuldade, que é natural que exista, das pessoas de lidar com o problema do design da empresa. O que deve ser a marca e a imagem da instituição é algo sutil, não é qualquer presidente, por mais que conheça a empresa, que tem os instrumentos, o discernimento e a sagacidade mesmo para saber qual deve ser a sua cara institucional. Não é só o que ele acha, mas o que a empresa é no mercado, o que as pessoas vêem. E não é um problema só privado, é um problema público. O caso da Petrobras é mais ainda, mas qualquer empresa já teria uma dimensão pública. Como falei, o oval da Esso faz parte da música popular brasileira, então a Esso tem uma responsabilidade socio-cultural no Brasil, porque ela está aqui há muito tempo, ela participa da nossa cultura visual da nossa comunicação, da nossa propaganda há muito tempo. É uma responsabilidade que a empresa tem nesse contexto cultural e o designer tem que estar atento a isso e tem que mostrar à Empresa: “Você tem esse papel também. Não é só vender gasolina! Seu papel excede, é um papel social.”
Essa linha de continuidade revela uma dificuldade de operar com esse problema, com essa questão: “Qual deve ser a imagem de uma empresa?” Qual deve ser a imagem da Petrobras? Deve ter prateado? Deve ser azul? Deve ser uma chama? Deve ser um BR? Deve ser um losango? Deve ser um hexágono? O que não pode e que não deve também é ser mais de uma coisa, como durante muito tempo foi. Durante muito tempo, durante vinte anos, a Petrobras teve duas marcas. Levou vinte anos para se tocar.
CONCEPÇÃO DA MARCA BR
O projeto do Aloísio era a longo prazo. Esse longo prazo significava dizer que quem precisava da marca [em 1970] era a Distribuidora, então, o BR era a marca da Distribuidora. Mas a idéia era que esse projeto fosse ocupar toda a empresa. Nunca um designer, muito menos o Aloisio, ia pensar em fazer um projeto para a Petrobras Distribuidora que fosse totalmente desligado de um projeto de design da Petrobras Petróleo Brasileiro S.A. O designer pensa como um sistema, como um conjunto, a não ser que sejam duas empresas. Eu posso ser dono de duas empresas e quero que uma tenha uma cara e a outra seja diferente. Mas, aqui, o nome é o mesmo, a empresa é a mesma e não era a intenção da Petrobras se desvencilhar da Distribuidora. A intenção era ser Petrobras Distribuidora e Petrobras Extração, Refino, etc. Então, o nosso propósito era que esse projeto se estendesse também, só que foi muito difícil. A Petrobras custou, relutou muito em aceitar aquela nova comunicação visual, mesmo porque ela não precisava muito, quem precisava mais era a Distribuidora para concorrer com as grandes empresas que estavam aqui. Mas não é só precisar, é uma questão também de comportamento e ela sentiu algo, tanto que acabou redesenhando o losango, mantendo o losango porque ela não aceitava se livrar dele.
DUAS MARCAS
Foi engraçado porque eles desenharam o novo losango, o hexágono com o losango dentro, mas mantiveram as cores, as faixas de cor. O losango passou a ser uma marca dentro do sistema do Aloisio Magalhães. Tinha as faixas de cor, o BR e, ao lado do BR, o losango. Eram realmente duas marcas dentro do mesmo campo: o BR e o losango. A Petrobras passou a ter duas marcas durante bastante tempo. Na lata do óleo estão lá: o losango e o BR dentro da palavra LUBRAX. Nos postos, o letreiro tinha o BR e tinha também o losango do lado, não no poste símbolo, mas tinha no poste de baixo no posto. Estavam lá as duas marcas e uma empresa não pode ter duas marcas, tem que ter uma. Tem que ser essa ou a outra, ou então junta as duas, sei lá, faz alguma coisa, mas não pode estar assim sem saber se é uma ou é outra. Então, se eu não sei qual é a minha marca, eu vou usando as duas. E tanto aconteceu que chegou uma hora que ela viu que não dava, estava inclusive desperdiçando dinheiro e resolveu unificar. E resolveu unificar com o BR que era do projeto original do Aloisio.
BR X LOSANGO
O Projeto original do Aloisio que foi rejeitado naquele momento e substituído por outro, esse losango com o hexágono, depois de 20 anos acabou sendo aceito, entendido e usado; depois de uma realidade e de uma pesquisa inclusive. Eu até gostaria de ver melhor os dados dessa pesquisa. Foi feita uma pesquisa e viu-se que a marca BR era muito mais conhecida que a outra. É óbvio porque a marca BR tem muito mais identidade do que o losango, como tínhamos visto milhares no catálogo telefônico, na pesquisa que fizemos na época do projeto, em 1970. O losango foi rejeitado e se propôs o BR a partir de um levantamento na lista telefônica, muito simples de fazer. Tinham dezenas, centenas, não sei, havia uma prancha do projeto com todas as marcas que usavam losango; certamente dezenas e talvez mais de cem. Claro que essa pesquisa simplesmente constatou aquilo que já tínhamos pré-constatado num levantamento mais superficial, que o losango é uma forma universal, tanto que as pessoas reconheciam o BR, mas não reconheciam o losango. O losango é uma forma universal, então elas não viam ali alguma forma particularizada, para elas era qualquer coisa. O BR não, o BR é BR, ninguém usa BR.
Propusemos que se usasse uma imagem única. Na verdade, a idéia a longo prazo seria ter o BR como marca geral. A curto prazo a proposta era a de usar o BR só na Distribuidora e depois usar o BR também na Petrobras Petróleo Brasileiro, mas dentro da palavra Petrobras. Quer dizer: a palavra Petrobras escrita com todas as suas nove letras e o BR destacado, com o tracinho em cima. O BR estaria dentro da palavra Petrobras ou solto, como no caso da Distribuidora. A idéia era ser um projeto único, o BR uma marca para a Petrobras, que, com o tempo podia se estender.
Já era difícil abandonar o losango com a palavra dentro, a diretoria da Petrobras teve a maior dificuldade de aceitar isso, agora imagina deixar de usar todas as nove letras do nome e usar só o BR? Isso era totalmente novo para eles, mas era uma escolha acertada. O problema do Aloisio, ou do designer, é a antecipação. Pensamos para frente, porque projeto é pensar para frente. Se eu vou desenhar essa caneta, ela não existe hoje, ela vai existir daqui a não sei quanto tempo, dependendo do processo comercial e industrial; daqui a tanto tempo eu sei que essa caneta que não existe vai passar a existir. Então, o nosso trabalho, pela própria natureza, é pensar adiante. Se essa caneta só vai existir no ano que vem, como vai ser o mercado do ano que vem? Eu tenho que saber por que essa caneta só vai existir no ano que vem. Então, estamos sempre pensando adiante, só que às vezes, pensamos para muito depois. Foi o que aconteceu. O Aloisio estava 20 anos à frente, ou então a Petrobras demorou 20 anos para entender o que ele estava dizendo, mas foi o que aconteceu. E ele não teve a oportunidade de ver isso. Isso foi uma pena, porque ele morreu bem antes. Ele teria gostado de testemunhar essa mudança.
Eu fiquei muito impressionado. Eu vi em algum lugar essa pesquisa que a Petrobras fez e que haviam decidido abandonar finalmente o losango e adotar o BR para tudo. Eu pensei: “Poxa vida, agora, depois de não sei quantos anos de prática no mercado, de vivência do problema, de dificuldade, dessa proliferação das marcas, devem ter sentido em algum momento que não fazia sentido!” Não sei o que motivou essa pesquisa, qual foi a idéia, mas devem ter sentido que as coisas estavam um pouco prolixas, havia uma repetição de mais de uma marca na comunicação visual da empresa.
PETROBRAX
Quando eles finalmente incorporam em 1994, vem depois a história da Petrobrax. Eu não entendo como é que esse projeto da Petrobrax pôde esquecer toda a história do BR. Esqueceu tudo isso, como se toda a história não existisse e, de repente, vem uma marca nova. Eu acho que até faz sentido, as marcas realmente precisam ser renovadas visualmente, mas não precisam ser descontinuadas.
Essa é a minha tese: as coisas têm que ser renovadas, mas não descontinuadas. Pode-se renovar sem descontinuar, sem quebrar. Como aconteceu com a bandeira brasileira; eu estou pesquisando também a história da bandeira brasileira, que aliás tem a ver com a imagem da Petrobras. Claro que a imagem da Petrobras é baseada na bandeira, nas cores e já foi na forma também. A história da bandeira brasileira se inicia muito antes da República, muito antes do Império, começa na Colônia e até com Cabral, quando vieram as primeiras bandeiras. Para mim, a bandeira que usamos hoje tem algo a ver as bandeiras que os portugueses trouxeram em 1500, com a nossa história toda.
Teve um momento, em 15 de novembro de 1889, no dia da Proclamação da República, a bandeira brasileira passou a ser igual a dos Estados Unidos só que verde e amarela, durante quatro dias. Foi a bandeira que estava no navio que levou Dom Pedro II para o exílio na Europa. Em 19 de novembro, então, resolveram retomar a linha de continuidade da história da bandeira brasileira e redesenharam a bandeira do Império, tirando o brasão imperial e colocando a representação do céu do Rio de Janeiro naquela data da fundação da República. Ali os positivistas tiveram uma clareza: “Qual o sentido de usar uma bandeira igual a dos Estados Unidos?” Por mais que os Estados Unidos naquele momento fosse um modelo político, um modelo de república muito prestigiado e muito importante para a disseminação do processo republicano no mundo inteiro. Mas não fazia o menor sentido. Já que vamos ter uma linha de continuidade, porque com os Estados Unidos e não com o Brasil? Os positivistas tiveram essa clareza e resolveram retomar a bandeira imperial e redesenhá-la. Tem que ter clareza e dar importância para essas linhas de continuidade. Aliás, era uma reflexão que o Aloísio usava muito sobre a questão da descontinuidade das coisas no Brasil. Ele usava a idéia da tesoura que ia cortando as linhas de continuidade da cultura brasileira e que isso era muito prejudicial à consolidação, à afirmação dos valores da cultura brasileira.
O “caso Petrobrax” é bem parecido com essa história da bandeira, em poucos dias voltou tudo atrás. Durante pouco tempo e chocou o país também. A Petrobras não é só uma empresa. Eu acabei lendo sobre a história da Petrobras porque eu era criança nos anos 1950 quando ela foi criada. Eu me lembro ainda da campanha “O Petróleo é nosso”, me lembro desse movimento, mas não conheço muito essa história, estudei um pouco e vi que é uma história linda. Tem o Horta Barbosa que é o nome do edifício [EDIHB]; eu cheguei aqui para a entrevista e vi o nome do Edifício e fiquei muito admirado, porque eu li os textos do Horta Barbosa. Inclusive tem um texto dele que eu estou usando no meu trabalho: “Defendendo o petróleo, a autonomia do Brasil na produção do petróleo”, enfim, toda a filosofia que gerou a Petrobras. Ele termina dizendo que “é preciso substituir esses nomes – dava o nome das empresas multinacionais que atuam nesse setor – por nomes brasileiros.” Eu fiquei pensando: “Será que o Aloisio leu?” Porque, na época, nós sabíamos de toda a história e era a base do projeto, mas os dados históricos eu nunca tinha esmiuçado como estou fazendo agora para a dissertação de mestrado. Eu fiquei muito contente de ver que o Horta Barbosa, o General que dá nome ao edifício aqui, fez essa frase dizendo que é preciso trabalhar com nomes brasileiros. Foi exatamente o que o Aloisio fez: trabalhar com nomes brasileiros. BR é um nome brasileiro, já Brax não é. O Brax pode ser até bom comercialmente, mas … Em dois dias mudou tudo e voltou para trás. Agora, o problema não é voltar para trás, o problema é ir para frente, mas sem a quebra do caminho.
IMAGEM DA PETROBRAS
A marca é muito importante porque se confunde com a empresa, assim como a Petrobras se confunde com o Brasil. A história do Brasil nos anos 1930, 1940, 1950 se confunde com a história da Petrobras, com a história do Getúlio, da política dele, com a política de se criar uma infra-estrutura no Brasil e ao mesmo tempo colaborar com os países do primeiro mundo, com os países de que somos dependentes economicamente ou tecnologicamente. Mas tem que ter um contraponto. A globalização é maravilhosa, desde que seja de mão dupla. Não tem sentido só receber, só ouvir. Temos que falar e ser ouvido também. A história do Brasil no século XX, em geral, – principalmente no período do Getúlio e depois no período do Juscelino, de novo a mesma filosofia – tem esse lado muito importante de ter uma necessidade de afirmação e de independência, de saber o que precisamos e o que deve ser feito nessa terra, nesse território para usufruto das pessoas que aqui vivem. E a Petrobras é parte dessa história.
Foi engraçado também porque a Petrobras foi a única empresa que os Fernandos não conseguiram privatizar, nem o Collor e nem o Fernando Henrique. Acho que até ninguém toca nesse assunto, mas é curioso porque se privatizaram tão facilmente tantas empresas e a Petrobras… Até se tocou no assunto, mas ninguém se atreveu a desenvolver muito porque tem essa mistura entre a Petrobras e o país. Não é à toa que a Petrobras tem esse papel, é impressionante, não tem um projeto cultural no Brasil que não leve a marca da Petrobras. Isso é muito importante, ela está envolvida com o país, além da venda de petróleo ou de gasolina. Ela tem historicamente esse papel e, recentemente, depois de todos esses processos de auto-análise na busca da sua imagem que começou com o Aloísio e depois os outros projetos que se seguiram: todos eles são uma busca.
Até o do Petrobrax, eu me lembro de ter visto alguns depoimentos de pessoas da Petrobras dizendo que o brax seria mais fácil de se pronunciar do que o bras. São questões que não sei se são pertinentes ou não, mas enfim, tem essa preocupação de comunicação e de ser bem compreendido. A Petrobras teve essa história e ela tem, cada vez mais, estimulado esse lado extra comercial. Talvez, no caso da imagem, ela tenha mais dificuldade de lidar com o problema, mas de qualquer jeito a preocupação que criou a Petrobras e que a levou a se enfronhar no mercado distribuidor, competir com a multinacionais, depois conseguir sobreviver ao processo de privatização das empresas no Brasil. Hoje tem essa dimensão cultural no Brasil. Tudo são passos da história da Petrobras dentro desse mesmo sentido de simbiose, de mistura com o país.
UM MARCO NO DESIGN BRASILEIRO
No caso específico do design, falando como designer, o trabalho original da Petrobras pelo Aloisio foi, durante muito tempo, uma revolução completa no design das coisas e daquela época. As pessoas ficavam surpreendidas quando viam. O Aloisio apresentava muito esse projeto através de slides, em várias ocasiões e as pessoas ficavam muito surpreendidas. Realmente, era tudo diferente, nessa linha de continuidade, nessa linha histórica que eu mencionei, via-se a diferença entre o losango e o que o projeto da BR fez; foi uma coisa radical mesmo. Então, isso foi muito importante para o design porque deu aos designers uma profissão e principalmente nessa área da identidade visual – que hoje chama-se de branding – uma consciência da possibilidade do design e da responsabilidade do designer também como formulador da imagem das empresas. O trabalho da Petrobras foi fundamental para isso. Todo mundo queria conhecer, os nossos colegas de São Paulo, de Pernambuco, de Minas Gerais quando vinham ao Rio, iam lá visitar o escritório do Aloisio. Nós mostrávamos o trabalho e todo mundo se interessava, era algo nova e servia de modelo para muitos comportamentos dentro das empresas nessas áreas. Acho que isso é o que justifica basicamente eu ter escolhido esse tema, porque foi um projeto fundamental para o desenvolvimento do design no Brasil.
IMAGEM DA PETROBRAS
A Petrobras, embora ande meio ziguezagueando, tem alguma linha de pensamento ou de trabalho que fica. A Petrobras sempre investiu em design, a partir do Aloisio sempre investiu e sempre criou coisas novas, mesmo que seja ziguezagueante, mas tem uma continuidade nesse sentido, porque está sempre procurando. Isso tem sido muito importante. Os postos atuais também, com aquele sistema amplo que mostra uma preocupação de servir. Pode ser até exagerado de tamanho, ou não, enfim o dimensionamento é outra questão, mas o fato de oferecer o serviço, oferecer o equipamento para serviço, tudo é a filosofia da Empresa que está mudando de design, mas está sempre aí no mercado. Isso para o design tem sido muito importante também e é uma das razões porque eu estou fazendo essa pesquisa: a importância do cliente Petrobras, digamos, como contratante do designer.
A minha preocupação é o design; eu sou um designer preocupado em fazer e estudar, e o trabalho da Petrobras representa uma referência – não um modelo perfeito que tem que ser seguido em todos os níveis porque tem os problemas que já falei – no sentido do design como instrumento de trabalho de uma empresa. A Petrobras desde os anos 60 tem tido essa orientação. E, como brasileiro, tem um aspecto muito interessante por causa daquilo que falava antes: a história da Petrobras é a própria história do Brasil. Quando eu comecei a ler esses textos, eu não só achei interessante essa história – que conhecia mais ou menos, um pouco de ouvir falar e um pouco por testemunhar, ainda era criança nos anos 1950 – mas gostei de conhecer, de saber que tem a ver com a história do Brasil, tem a ver com a gente. Tem essa ligação da empresa com a dimensão social; a Petrobras é um super exemplo disso. Isso justifica o trabalho e é motivo para se estudar o assunto.